segunda-feira, 19 de maio de 2008

Carta Aberta ao Presidente da República, Dr. Cavaco Silva

"Benfica, 19 de Maio de 2008
Exmo. Sr. Presidente,

Somos um grupo de estudantes da Escola Superior de Comunicação Social e, tal como a V. Exa., preocupa-nos a falta de interesse dos jovens pela política. Consideramos que a juventude é uma altura da vida imperdível para a cidadania activa e a sensibilização para causas sociais e políticas. Por outro lado, consideramos a Universidade um espaço ímpar de formação de indivíduos activos e interessados, e de reflexão sobre a sociedade.

Recordando os dez anos em que foi chefe de governo – em que introduziu o pagamento de propinas, contributo maior para o ensino superior profundamente elitizado que continuamos a ter, e em que recorreu à carga policial sobre estudantes – podíamos questionar a coerência política da recente preocupação de V. Exa. Mas mais: enquanto Presidente da República, V. Exa. tem tomado decisões que são, a nosso ver, de uma profunda incoerência com o discurso que proclamou no 25 de Abril, e que tanto respeito e concordância nos merece.

Na semana passada teve um encontro com juventudes partidárias, mas decidiu excluir vários movimentos e organizações juvenis particularmente participativos na sociedade e na política portuguesa nos últimos anos. Há duas semanas, promulgou um Tratado de Lisboa que, sabemo-lo, escapou à discussão e à participação directa dos jovens e da sociedade através da aprovação no Parlamento, quebrando uma promessa eleitoral.

Mas são a reforma de Bolonha e o novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, por V. Exa. promulgados, que nos causam maior revolta.

Ambas as refomas são um claro e portentoso incentivo à não participação dos jovens. Não só foram aprovadas à revelia dos estudantes, através de uma indisfarçável fuga à discussão pública e ao envolvimento da comunidade académica, como traçam um caminho inequívoco para um ensino superior submisso aos interesses do mercado.

Os planos curriculares de Bolonha, respondendo a uma necessidade directa do mercado de trabalho europeu, conduzem a um ensino cada vez mais uniformizado e estritamente “profissionalizante”, onde o espaço crítico e a qualidade ficam postos em causa.

O exemplo da nossa escola, que hoje vem visitar, é paradigmático: cadeiras importantes sobre política e sobre a contemporaneidade, que apelam a reflexão cívica, desapareceram dos currículos ou foram dramaticamente reduzidas.

O novo Regime Jurídico agudiza este problema, aproximando ainda mais as universidades das empresas, quer pela possibilidade de passagem a fundações de direito privado, quer pela entrada de “personalidades externas” para a gestão da escola.
Mas o mais gritante é a bestial redução da representação dos estudantes nos órgãos de gestão. Como podemos criticar a falta de interesse dos jovens e ao mesmo tempo retirar-lhes a simples possibilidade de participar na sua própria escola? E, ironia!, quando a gestão democrática da Universidade até foi uma das grandes conquistas de Abril!

O estudo que encomendou mostra o desinteresse dos jovens em relação à política nacional e internacional. Nós dizemos-lhe mais: a maioria dos estudantes não sabe sequer que tem órgãos de gestão na sua própria faculdade nos quais pode participar activamente.

É incontornável: uma democracia que se sustenta numa população desinteressada e alheada das decisões é uma verdadeira falácia democrática. Enquanto estudantes universitários atentos e participativos, clamamos por uma Universidade livre de interesses empresariais, que promova a reflexão e a participação cívica, que seja tanto democrática quanto promotora da democracia.

Acreditamos que em última instância é ao Presidente da República, enquanto figura máxima do país, que cabe assegurá-la. Costuma dizer o povo “menos conversa e mais trabalho”. E aqui, sabemo-lo, muito trabalho há a ser feito.

Cordialmente,

A Farpa"

“Se formos apenas mais uma escola, seremos uma escola a mais”

8 comentários:

Anónimo disse...

PR: Estudantes entregam manifesto recordando que Cavaco Silva introduziu pagamentos de propinas

19 de Maio de 2008, 17:21

Lisboa, 19 Mai (Lusa) -- Estudantes da Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa entregaram hoje um manifesto ao Presidente da República em que recordam que foi Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro, quem "introduziu as propinas", contribuindo assim para um ensino superior "elitizado".
Confrontado pelos jornalistas, Cavaco Silva recusou-se inicialmente a comentar a iniciativa dos estudantes, afirmando desconhecer o teor dessa mensagem.
"Não, eu não li a carta, não sei o que está lá", disse, acrescentando que iria ler, mas acabou por adiantar que "aquilo que fez foi sempre na convicção profunda que estava a fazer o melhor para o país, para o conjunto dos portugueses e não apenas para um grupo".
Concretamente sobre as críticas da introdução das propinas, Cavaco Silva recordou que apenas "os governos que se seguiram deram continuidade a essa política".
A carta dos estudantes da Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa (ESCS) afirma que o Governo de Cavaco Silva "recorreu à carga policial sobre estudantes" e acusaram o Chefe de Estado de "profunda incoerência com o discurso que proclamou no 25 de Abril, que lhes mereceu concordância.
A introdução de propinas, a promulgação do tratado de Lisboa sem debate, a reforma de Bolonha e o novo regime jurídico das instituições do Ensino Superior, promulgados pelo Chefe de estado, são para os estudantes o que lhes causa "maior revolta".
"Tive muito prazer em estar aqui, até por se constatar que se justificou plenamente a construção deste edifício e da criação de uma Escola Superior de Comunicação Social porque, com certeza, teremos jornalistas muito mais bem preparados do que teríamos de outra forma na área da comunicação social", disse.
Cavaco Silva inaugurou este estabelecimento de Ensino Superior em 1994 enquanto primeiro-ministro.

linfoma_a-escrota disse...

e a fcsh não tem movimento estudantil semelhante ao vosso ?!


xéxé trata disso . ..



www.motoratasdemarte.blogspot.com

Anónimo disse...

Já por diversas vezes aqui passei deixando-me ficar queda e muda perante a quantidade de informação com que aqui me deparo...
Desta vez não consigo, se bem que a estupefacção ainda me impeça de raciocinar correctamente e articular um discurso que diga tudo aquilo que -parece-me- vocês precisam de ouvir!

Mas para que não seja um comentário vazio, vou deixar somente umas ideias...o resto, deixo para a vossa tão apregoada capacidade de pensar e reflectir:

1. A introdução de propinas não é um sistema elitista. Ele funciona em tantos outros países do mundo, e é tão somente, um sistema. PONTO.
Por que razão não devem ser pagas propinas? Por que razão vocês, utilizadores de material de qualidade, de estudios para trabalhar, de computadores, de um edificio impecável, de técnicos e demasiados funcionários, não haviam de pagar por isso?
A educação não deixa de ser um direito por pagarem por ele..tal como a saúde..ou o que seja!
E já nem preciso de referir a quantidade de mordomias que a escs sempre deu a todos os alunos.
Acho que o problema está na definição do conceito de "direitos". Mas isso ficará para outra altura!

2. Em vez de escreverem manifestos, em vez de escreverem um blog, em vez de apregoarem a moral e os bons costumes!, por que não se candidataram, por exemplo à Associação de Estudantes?
E concretizam o que tanto apregoam? E lutam pela causa maior pela qual supostamente se debatem? Vamos. A desculpa de se ser finalista nao cola...

3. Em vez de se declararem apartidários, porque nao assumem a posição que claramente se manifesta nas vossas aitutes, textos e afins? Afinal, a democracia começa com a verdade..sejamos Homenzinhos!!

4. Se antes de escreverem o disparatado (apetecia-me dizer ridículo...) manifesto pensassem em todas as pessoas que trabalham e estudam para que vocês o pudessem fazer, e para que tivessem a inteligência, descaramento ou o que acham que têm para o conseguir fazer? Se o pensamento crítico desapareceu, vocês assumem-se como um grupo de iluminados que aprendeu a pensar sozinho??Ou afinal há quem tenha contribuido para isso?

5. Os curriculos de bolonha, ao contrário do que vocês dizem, NAO pretendem uniformizar o ensino...se bem leram o que se pretende, Bolonha quer precisamente que cada um possa construir o seu CV!, da forma como achar melhor.(se calhar para promover as opções de escolha e o espírito critico..digo eu!).

Provavelmente, quando saírem da vossa redoma escsiana, percebem que a escs vos deu mais do que alguma vez vocês poderiam pagar...com ou sem o dinheiro das propinas!

Continuem a pensar...afinal, um dia o pensamento vai levar-vos ao bom senso. Espero...

Anónimo disse...

Pessoalmente, acho positivo que a Farpa não deixe ninguém indiferente, para o bem e para o mal. Ou seja, tomara que todos na ESCS fossem como tu e que se apresentassem críticos sobre o que vêem em redor.

1. A introdução das propinas teve e tem um propósito que é o de adaptar o Ensino Superior ao conceito de utilizador-pagador tão badalado pelas sociedades neoliberais. Em vez de um direito, o ensino passa a ser um privilégio acessível a quem tem dinheiro para pagar o valor que se exige. E embora exista a Acção Social ela é manifestamente insuficiente face aos sucessivos aumentos das propinas e dos outros gastos escolares. Para além disso, os portugueses pagam impostos que são direccionados também para a educação. Como tal, todos devem ter acesso ao Ensino Superior da mesma forma. Afinal, até dizem que isto é uma democracia.

Quanto às mordomias de que falas não sei a que te referes. Aquela pastia e a pen usb que dão no inicio do ano a troco de quase 50 euros pela inscrição? Ou a mediateca em que 80 por cento dos computadores estão avariados?

2. Alguns dos elementos da Farpa candidataram-se noutros anos à Associação de Estudantes, à Assembleia de Representantes e ao Conselho Pedagógico. Contudo, este projecto nasceu quando a maioria já estava no seu último ano. Ou seja, não se podiam candidatar para abandonar o mandato a meio (uma vez que o mandato começa e acaba em Janeiro). Portanto, o que não cola é ser irresponsável e apostar num projecto que não poderíamos cumprir.

3. Nós somos apartidários. A nossa pretensão como movimento não é ter algo a ver com partidos. A ideia é fomentar a participação, a discussão e a acção, coisa que há muito tempo que falta na ESCS. Portanto, parece-me que somos muito homenzinhos e mulherzinhas. Não compreendo esse teu tom agressivo.

4. Naturalmente, valorizo todos aqueles que lutaram no passado para que hoje possamos criticar de forma aberta a sociedade que, curiosamente, começa a andar para trás. E ridícula ou não temos direito a dar a nossa opinião de forma livre.

5. Parece que tens de ler melhor o Tratado de Bolonha. Mas fa-lo sem essas pretensões sabichonas porque pode ser que te surpreendas. O Tratado de Bolonha tem como grande objectivo a uniformização do Ensino Superior europeu. É que ouvir a propaganda da União Europeia e do nosso governo sabe sempre bem. O Tratado de Bolonha promove a elitização e a entrada das empresas no Ensino Superior. Coisa que também faz, aliás, o RJIES. Em Bolonha o ensino e o conhecimento são vistos como um produto de venda.

6. A nós talvez nos tenha dado alguma coisa porque pagámos as propinas mas todos aqueles que ficaram de fora do ensino porque não o puderam fazer já não devem ter a mesma opinião que tu. Felizmente, há gente que luta neste país para que não seja sempre a mesma minoria a ter acesso às melhores condições de vida. Porque democracia não pode ser só no dia em que vamos votar.

Esta é uma opinião pessoal e não da Farpa.

Bruno Carvalho

Anónimo disse...

Lamento que tenhas essa ideia do “pequeno grupo de iluminados”, com a qual ninguém na farpa se identifica.

Concordo contigo em relação às propinas: é um sistema, ponto. Um sistema, como há outros. Acho que é importante ter noção disso, aceito a tua perspectiva e acho que é uma discussão muito interessante. Mas também acho muito importante termos lembrado na carta ao Cavaco Silva (porque muitos de nós não o sabem) que não há muito tempo, até ele se tornar Primeiro-ministro, pagávamos 1.500 escudos por ano na Universidade.

A verdade é que sim, hoje há quem abandone o curso por falta de dinheiro, e há quem não pense em tirar um curso porque não tem dinheiro. Sei que tenho essas “mordomias” de que falas porque pertenço (pertencemos!) a uma elite, mas pessoalmente não vivo particularmente conformado com isso.

Respeito que tenhas essa posição em relação à candidatura à AE – mesmo depois de uma explicação que me parece tão simples quanto óbvia de entender. Já não aceito é que ponhas em causa tudo aquilo que (ou mesmo o pouco que) temos vindo a fazer, todo o nosso esforço, pelo simples facto de não nos termos candidatado. Estou certo de que muito terás feito enquanto estiveste na ESCS, mas porquê esse repúdio a uma malta que vai simplesmente organizando uns debates, dinamizando umas AGAs, interpelando o conselho directivo e tentando mobilizar uns estudantes?

Não estou ligado a nenhum partido, tenho orgulho e respeito por quem o está, e tenho um gozo tremendo por haver na farpa visões e ideias tão diferentes. Percebo que seria mais fácil poder colocar etiquetas nas pessoas para poder usar todos aqueles preconceitos miseráveis (“Cuidado, são comunistas! Comem criancinhas ao pequeno-almoço!”) – mas em relação a nós, vais mesmo ter de continuar com essa frustração ;)

Perdoa-me se defendo uma escola que forme cidadãos e não apenas formigas altamente especializadas para o carreiro do mercado de trabalho. Eu sei que estou a ficar antiquado... Mas estas preocupações em relação a Bolonha e ao RJIES são legítimas e não são só nossas. São reformas amplamente criticadas por muitos sectores da sociedade e violentamente recusadas pelos estudantes por essa Europa fora. Muitos colegas e imensos professores da ESCS partilham as “nossas” preocupações.

Perante tanta indignação, pergunto: como é que não te indigna o facto de termos vivido a maior reforma de sempre do ensino superior público, feita completamente à balda e em tempo recorde, sem o mais pequeno envolvimento dos estudantes no processo, e ninguém ter sequer procurado denunciar a situação?

(À excepção, claro, de pequenos grupinhos de estudantes iluminados, arrogantezinhos e insuportáveis…)

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Bom, isto é que é animação.Se soubesse tinha escrito há mais tempo. Mas de facto tempo é coisa de que nao disponho e como tal so vi tudo agora...ora, entao, Francisco, por pontos!

1. Ainda bem que pagamos mais…1500$ parece-me pouco para tudo o que te dá a seguir ;) Mas sim, é um sistema. Estamos de acordo!


2. Eu não me disse conformada com o facto de pertencer a uma “elite” – porque nem sequer sinto que pertença! Não foi particularmente agradável ver as bolsas sociais passarem para colegas cujos pais ganhavam o dobro dos meus. Mas fiz por poder tirar este curso. Conheço muita gente que trabalha para o poder fazer e não acho que sejam elite nenhum. São, somente, pessoas que sabem muito bem o que querem e como usar tudo o que têm para chegar ao seu objectivo

3. “Já não aceito é que ponhas em causa tudo aquilo que (ou mesmo o pouco que) temos vindo a fazer, todo o nosso esforço, pelo simples facto de não nos termos candidatado” Não pus em causa tudo. Pus esta questão em particular. E posso citar inúmeras pessoas que depois de acabarem os seus cursos não deixaram a escs, precisamente por estarem envolvidos, por exemplo, na AE. Somente não aceito como válida essa justificação…

4. Comunistas? Mas eu nem sequer citei partidos…aliás, não vos identifico muito com os comunistas, mas se és tu quem o dizes… (E repara..eu não me frustro com tão pouco!Sorry…)


5. Não tenho que te perdoar nada nem sequer pus em causa a legitimidade das vossas preocupações. Também tenho as minhas. A única coisa que ponho em causa é a forma como o fazem / demonstram. Mas vivendo numa democracia (?), julgo ter esse direito…Eu também não sou fã dos currículos de Bolonha, mas acho que se forem correctamente aplicados podem ser muito melhores do que grande parte dos currículos vigentes antes de Bolonha!Aliás, “por essa Europa fora”, tive oportunidade de conhecer currículos bastante bem estruturados…

Perante tanta indignação, pergunto: como é que não te indigna o facto de termos vivido a maior reforma de sempre do ensino superior público, feita completamente à balda e em tempo recorde, sem o mais pequeno envolvimento dos estudantes no processo, e ninguém ter sequer procurado denunciar a situação?

6. Não me indigna! Porque acho – na verdade tenho quase a certeza de – que não são os alunos que sabem decidir currículos. Saberão a seu tempo e no seu lugar. Mas a subversão dos valores e do poder indigna-me mais que uma reforma feita sem os estudantes. Indigna-me, sim, e concordo contigo, o facto de ter sido feita num tempo ridiculamente curto e “à balda”! (já concordamos em 50%..nao é mau!!)

”À excepção, claro, de pequenos grupinhos de estudantes iluminados, arrogantezinhos e insuportáveis…” – somente duas palavras de toda essa frase são minhas! Tudo o resto..tu o dizes!

PS- By the way…falta um post sobre o Acordo Ortográfico. Vão-me dizer que estão de acordo?...
Porque eu estou… ;)

Anónimo disse...

- Parece-me um pouco óbvio que a descrição que fiz d'A Farpa era irónica, e sabemos perfeitamente que ela serve à tua visão tão carregadinha de preconceitos.

- Não me parece que 1000 euros por ano para ter acesso a um direito básico seja assim tão justo. Lá está, é uma discussão interessante. Na tua opinião, qualquer pessoa que queira pode tirar um curso superior em Portugal - basta que siga o teu exemplo e "faça por isso". Para mim, estás quase na linha daquele execrável discurso burguês "só há pobres porque não se esforçam na vida". Reconhece-o: há muitos que simplesmente não podem fazer a opção que eu e tu fizemos! E sim, para mim as propinas contribuem para isso.

- Disseste que em vez de termos feito tudo o que fizemos, nos deviamos era ter candidatado à AE. Claro que estás a pôr em causa o facto de alguns colegas teus se terem simplesmente juntado e procurado fazer coisas. O que é bastante infeliz. Mas sim, tal como tu espero que o grupo que constitui a Farpa se possa candidatar no próximo ano.

- Sem qualquer tipo de arrogância, digo-te a minha opinião: não tens qualquer noção do que se está a passar no ensino superior. Para ti as reformas no ensino superior foram uma simples mudança nos planos de estudos, e 1. os alunos não percebem nada de planos de estudos, tudo está bem, 2. pela europa viste planos de estudo bons, tudo está óptimo. É uma visão tão limitada para alguem tão elouquente...

Primeiro, não digo que os currículos anteriores fossem perfeitos. E claro que há qualidades pontuais na reforma de Bolonha. Mas digo-te mais uma vez o que penso:
O ensino superior como o conhecemos está a acabar. Passo a passo, esbatem-se as fronteiras entre educação e mercado, as empresas entram nas universidades, as universidades tornam-se elas próprias empresas. Vender-se-á cursos superiores como quem vende sapatos - e naturalmente quem pode ($$) tem mais e melhor. Ora, o RJIES e Bolonha são um passo de gigante. Em nome da sagrada "competitividade", tende-se a uniformizar os planos de estudo estritamente segundo os interesses empresariais, e a elitizar mais ainda o ensino superior(licenciatura para quem tem $$, mestrado para quem tem muito $$). Não interessa aquilo que a sociedade precisa, mas apenas o que o mercado precisa. Naturalmente, a universidade deve formar profissionais muito tapadinhos, e nunca cidadãos críticos e participativos.

Serás dos poucos seres pensantes no planeta a achar que Bolonha vai promover o espírito crítico...

- Bem, seja como fôr, qualquer reforma TEM de ser feita com a intervenção dos estudantes e professores. A forma como o RJIES e Bolonha foram decididos (durante as férias escolares, dando o tempo mínimo de discussão pública, ignorando TODAS as vozes de professores e estudantes que se levantarm e TODOS os partidos da oposição) foi de uma asquerosa falta de democracia.

Ao que tu dizes: "a subversão dos valores e do poder indigna-me mais que uma reforma feita sem os estudantes." A este tipo de conservadorismo já me custa mesmo responder... Epá, eu nem falei numa revolução - só em democracia! Naquilo que qualquer principio democrático (e a lei!) exige: diálogo! Diálogo social!


Enfim... desculpa ter-me alongado.
Não deixes de ir comentando no blogue! É um prazer discutir ideias.

(e naturalmente esta não é "a" opinião da Farpa, é apenas uma delas!)

Francisco