terça-feira, 27 de maio de 2008

Hoje e amanhã: a diversidade na universidade!


Frase do dia...

“Pensamento que não age, ou é aborto ou é traição.”

Fernando Rosas, durante o debate sobre o Maio de ’68 na ESCS, citando Romain Rolland.

Debate sobre o Maio de ‘68



Na semana passada a biblioteca da ESCS acolheu professores e alunos para assistir a mais um debate: comemorou-se, também cá na escola, o Maio de ’68.

Há precisamente 40 anos, as ruas por toda a França estavam repletas de gente – voavam pedras, ideias e sonhos. Uma rebelião que começou nas Universidades e a que se juntaram dois terços de todos os trabalhadores daquele país de Norte a Sul paralisado.
40 anos depois, discutiram-se na ESCS as revoltas estudantis nas nossas universidades e o impacto do Maio de ’68 em Portugal.

João Paulo Avelãs Nunes, professor e investigador da Universidade de Coimbra, fez uma contextualização do movimento estudantil durante o Estado Novo. Traçou-se o perfil de uma Universidade reservada às classes dominantes, tradicionalmente apoiantes do regime, mas em que, durante toda a ditadura, não houve um só ano em que não se tenha dado uma revolta estudantil significativa.

Foi no entanto nos anos 60 e 70, com a emergência dos grupos de estudantes católicos progressistas e com a radicalização e multiplicação de ideias à esquerda (por exemplo maoistas), que o movimento estudantil antifascista mais força alcançou.

Fernando Rosas, historiador e deputado da Assembleia da República, partilhou a experiência de quem não só estudou, mas viveu e participou nas revoltas estudantis da altura.
A revolta de Maio de ’68 – que então acompanhavam por exemplo na casa de um dos estudantes, discutindo e escutando os discursos revolucionários através de cassetes que alguém conseguira trazer de França – só teve impacto em Portugal um ano depois.

Em 69 deram-se as grandes revoltas estudantis em Lisboa e sobretudo em Coimbra, por uma Universidade nova e democrática, contra a ditadura e a guerra colonial. Mas havia uma grande diferença em relação ao Maio francês: aqui o objectivo passava claramente pelo derrube do fascismo e a tomada do poder.
A discussão alargou-se aos alunos, que intervieram e interrogaram os convidados. Falou-se da apropriação do Maio de ‘68 pelas várias correntes políticas, das mudanças concretas que este acontecimento trouxe à sociedade, do movimento estudantil actual, num contexto de grandes reformas e de injustiças sociais crescentes e da necessidade de não se deixar de organizar acções como este debate.

Vários professores, incluindo os três membros do conselho directivo, também não deixaram de marcar presença na biblioteca. Uma moderação exemplar coube a Maria Inácia Rezola, professora da ESCS, que, por sua vez, louvou a iniciativa da Cultra e d’A Farpa.

O nosso obrigado agora aos oradores, à Cultra, ao conselho directivo, ao gabcom, às funcionárias da biblioteca e a todos os que vieram assistir ao debate!

“Se formos apenas mais uma escola, seremos uma escola a mais”

A carta aberta ao Presidente da República

Na semana passada, quebrámos o protocolo.

Aproveitando a visita de Cavaco Silva à ESCS, decidimos entregar-lhe uma carta aberta. Tínhamos recentemente escutado a preocupação do Presidente em relação à falta de interesse dos jovens pela política, preocupação que partilhamos e que nos sensibilizou. No entanto, tínhamos de questionar o Presidente sobre a coerência das suas palavras, tendo em conta as decisões políticas que tem tomado desde que iniciou o mandato, sobretudo a promulgação das reformas de Bolonha e do novo regime jurídico do Ensino Superior. Em todas encontramos incentivos à não participação dos jovens na escola e na sociedade.

Naturalmente, explicámos a nossa acção a todos os jornalistas presentes, o que lhe deu alguma projecção noticiosa. Pena que tenham decidido pegar apenas na questão das propinas (que na carta surge em jeito de introdução) e não tanto nas actuais reformas do ensino superior.
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"A iniciativa prosseguiu pela Escola Superior de Educação de Lisboa, onde um grupo de estudantes entregou partilhar da preocupação do Presidente com a falta de interesse dos jovens
pela política. O documento lembrava também que tinha sido Cavaco, enquanto primeiro-ministro, a introduzir o sistema de propinas, "contributo maior para o ensino superior profundamente elitizado". Mas as causas da "maior revolta" dos estudantes são o Processo de Bolonha e o novo regime jurídico das instituições de ensino superior."
in Público, 20/5/2008
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"Propinas foram ideia de Cavaco, lembram alunos
Estudantes entregaram manifesto a PR e acusam-no de «profunda incoerência»"
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"Estudantes entregam manifesto recordando que Cavaco Silva introduziu pagamentos de propinas
Estudantes da Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa entregaram hoje um manifesto ao Presidente da República em que recordam que foi Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro, quem «introduziu as propinas», contribuindo assim para um ensino superior «elitizado»"
in Sol

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Carta Aberta ao Presidente da República, Dr. Cavaco Silva

"Benfica, 19 de Maio de 2008
Exmo. Sr. Presidente,

Somos um grupo de estudantes da Escola Superior de Comunicação Social e, tal como a V. Exa., preocupa-nos a falta de interesse dos jovens pela política. Consideramos que a juventude é uma altura da vida imperdível para a cidadania activa e a sensibilização para causas sociais e políticas. Por outro lado, consideramos a Universidade um espaço ímpar de formação de indivíduos activos e interessados, e de reflexão sobre a sociedade.

Recordando os dez anos em que foi chefe de governo – em que introduziu o pagamento de propinas, contributo maior para o ensino superior profundamente elitizado que continuamos a ter, e em que recorreu à carga policial sobre estudantes – podíamos questionar a coerência política da recente preocupação de V. Exa. Mas mais: enquanto Presidente da República, V. Exa. tem tomado decisões que são, a nosso ver, de uma profunda incoerência com o discurso que proclamou no 25 de Abril, e que tanto respeito e concordância nos merece.

Na semana passada teve um encontro com juventudes partidárias, mas decidiu excluir vários movimentos e organizações juvenis particularmente participativos na sociedade e na política portuguesa nos últimos anos. Há duas semanas, promulgou um Tratado de Lisboa que, sabemo-lo, escapou à discussão e à participação directa dos jovens e da sociedade através da aprovação no Parlamento, quebrando uma promessa eleitoral.

Mas são a reforma de Bolonha e o novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, por V. Exa. promulgados, que nos causam maior revolta.

Ambas as refomas são um claro e portentoso incentivo à não participação dos jovens. Não só foram aprovadas à revelia dos estudantes, através de uma indisfarçável fuga à discussão pública e ao envolvimento da comunidade académica, como traçam um caminho inequívoco para um ensino superior submisso aos interesses do mercado.

Os planos curriculares de Bolonha, respondendo a uma necessidade directa do mercado de trabalho europeu, conduzem a um ensino cada vez mais uniformizado e estritamente “profissionalizante”, onde o espaço crítico e a qualidade ficam postos em causa.

O exemplo da nossa escola, que hoje vem visitar, é paradigmático: cadeiras importantes sobre política e sobre a contemporaneidade, que apelam a reflexão cívica, desapareceram dos currículos ou foram dramaticamente reduzidas.

O novo Regime Jurídico agudiza este problema, aproximando ainda mais as universidades das empresas, quer pela possibilidade de passagem a fundações de direito privado, quer pela entrada de “personalidades externas” para a gestão da escola.
Mas o mais gritante é a bestial redução da representação dos estudantes nos órgãos de gestão. Como podemos criticar a falta de interesse dos jovens e ao mesmo tempo retirar-lhes a simples possibilidade de participar na sua própria escola? E, ironia!, quando a gestão democrática da Universidade até foi uma das grandes conquistas de Abril!

O estudo que encomendou mostra o desinteresse dos jovens em relação à política nacional e internacional. Nós dizemos-lhe mais: a maioria dos estudantes não sabe sequer que tem órgãos de gestão na sua própria faculdade nos quais pode participar activamente.

É incontornável: uma democracia que se sustenta numa população desinteressada e alheada das decisões é uma verdadeira falácia democrática. Enquanto estudantes universitários atentos e participativos, clamamos por uma Universidade livre de interesses empresariais, que promova a reflexão e a participação cívica, que seja tanto democrática quanto promotora da democracia.

Acreditamos que em última instância é ao Presidente da República, enquanto figura máxima do país, que cabe assegurá-la. Costuma dizer o povo “menos conversa e mais trabalho”. E aqui, sabemo-lo, muito trabalho há a ser feito.

Cordialmente,

A Farpa"

“Se formos apenas mais uma escola, seremos uma escola a mais”

quinta-feira, 15 de maio de 2008

40 anos depois, a rebelião chega à ESCS


Maria Inácia Rezola, Fernando Rosas e João Paulo Avelãs Nunes trazem à ESCS aquele que foi um dos principais movimentos revolucionários do nosso tempo. "Maio, maduro Maio", um debate sobre o Maio de '68.

É já na 3ª feira. Contamos contigo!

sábado, 10 de maio de 2008

A ecologia na escola ou a escola da estupidez

A ecologia está na ordem do dia. O Al Gore fez um filme sobre alterações climáticas e é Prémio Nobel. O Rock in Rio, a Ben and Jerry’s e todo o tipo de multinacionais fazem uma autopromoção bestial promovendo a consciência ambiental. Até a AEESCS organizou há tempos uma Semana Verde na escola. Mas vamos ao que interessa: alguma destas coisas tem mudado os nossos hábitos?

O bar da nossa escola mostra-nos que não. Todos os dias amontoam-se às dezenas os copos de plástico pelo bar. Um copo de plástico, um pouquinho de água, um golo e zut! – mais um copo para o lixo! Até os cafés tendem a ser servidos em copos de plástico em vez de chávenas... Por outro lado, passou a utilizar-se desmesuradamente o “saquinho de papel”. Por cada bolo que sai, um saco de papel vai para o lixo. Impera o desperdício! Ora, não há muito tempo, os copos eram de vidro e os bolos eram servidos em loiça. Não há muito tempo, ainda reinava o bom senso. Na ESCS, o caminho percorre-se para trás.

Mas fosse o bar o nosso pior mal!

Foi há pouco mais de um ano que quem se passeava pelos corredores da escola notou uma notável inovação: baldes de reciclagem, aos magotes, intermináveis, por toda a parte! O súbito milagre da multiplicação dos baldes de reciclagem veio pôr a nu um dado preocupante: até ali as mais de 1000 pessoas que todos os dias partilham o edifício mais vistoso da 2ª circular não separavam as centenas de quilos de lixo que produziam diariamente.

Mas nós éramos capazes de melhor. Mesmo com tal milagre, conseguimos continuar a não fazer qualquer tipo de reciclagem! Dia após dia, na ESCS, repete-se o mesmo elogio da estupidez: durante o dia, o lixo é separado pelos 3 recipientes; depois, ao cair da noite, é novamente reunido e lançado no contentor normal. Há mais de um ano que, dia após dia, a mesmíssima coisa se repete.

E começando pelo conselho directivo, quase toda a escola sabe disto! Será mesmo complicado separar o lixo? Exigirá tamanha destreza motora? Há crianças giríssimas em anúncios de televisão que não parecem ter grande dificuldade.



Haja ecologia! Haja bom senso! Fica o apelo: ao conselho directivo, à Servilimpe, à empresa que gere os bares. Se as crianças conseguem, nós também somos capazes! Vamos lá fazer um esforço?

“Se formos apenas mais uma escola, seremos uma escola a mais.”