terça-feira, 18 de março de 2008

Os Professores e o Ensino

No sábado passado estiveram 100 mil professores nas ruas. Agora terminou uma semana de luto nas escolas. Nunca na nossa História uma única classe profissional se mobilizara assim.
(foto de Raúl Alexandre)
Fala-se sobretudo do ensino básico e secundário. E no ensino superior, tudo está bem com os professores?

O processo de Bolonha foi-nos imposto, e à pressa. Mas trazia uma ou outra ideia interessante: "A responsabilidade pela aprendizagem é tanto do professor como do aluno, como da Escola. O contacto aluno/professor tem de aumentar substancialmente, através de trabalho de acompanhamento e tutoria, com uma distribuição regular ao longo do período escolar."

Na ESCS, como noutras faculdades, aconteceu o contrário: com Bolonha os professores têm agora ainda menos tempo para qualquer tipo de acompanhamento. Por outro lado, o trabalho do professor aumenta, mas o estatuto da carreira docente não é revisto, e desprotege cada vez mais os professores.

No mês passado, o presidento do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup) denunciou ao Jornal de Negócios os direitos que estão a ser violados: cargas horárias que são ultrapassadas, a não concessão de licenças sabáticas (dispensa da actividade docente para o desenvolvimento profissional dos professores), professores que veêm multiplicado o número de disciplinas que têm de leccionar para lá do que seria aconselhável do ponto de vista pedagógico. E dispara: "nos institutos politécnicos há muitos docentes que têm vínculos absolutamente precários, com contratos anuais, de seis ou três meses em alguns casos, ao longo de anos."


Nós não só nos solidarizamos com os problemas dos professores, como também os sentimos na educação que recebemos.

Na ESCS, o próprio conselho directivo reconhece-o, quase todos os professores estão neste momento encostados ao limite máximo de horas de trabalho. Qualquer iniciativa que saia do estrito horário das aulas e que envolva professores (como os cursos livres) está absolutamente limitada. Está limitada a própria vida e dinamismo na escola.

E mesmo que não esteja posto em causa o funcionamento normal das aulas, temos de questionar se não o estará a qualidade do ensino que se pratica. Haverá condições e tempo suficiente para preparar as aulas? Para corrigir testes e trabalhos? Acima de tudo, para acompanhar o trabalho e o progresso dos alunos? Cada aluno da ESCS o sabe: não há. Tudo ao contrário da proposta de Bolonha.Na ESCS, também o sabemos, há por vezes professores que "servem" para dar todo o tipo de cadeiras, um pouco conforme der jeito.

Na ESCS há muitos professores com contratos de trabalho anuais, que não sabem se no ano seguinte terão trabalho.

Como chegámos até aqui? Para o Presidente do SNESup, a causa da "doença" que hoje existe nos ensino superior é só uma: os "cortes orçamentais brutais" por parte do governo. Na ESCS, o conselho directivo também o reconhece: nos últimos anos as verbas do Estado não aumentaram pouco, nem estagnaram - elas diminuiram, 30%!

A asfixia financeira está a deteriorar as condições de trabalho dos nossos professores e a qualidade do nosso ensino. Vai empurrando as faculdades para a procura de lucro próprio e para as parcerias com as empresas, por um lado, e para a diminuição do investimento, por outro.

Está em jogo a vida das pessoas que dão aulas na escola. Mas também está em jogo a qualidade e a independência do ensino superior, tal como a possibilidade de todos lhe poderem aceder.

Estudantes e professores devem partilhar problemas e preocupações. Juntos, devemos lutar contra a precarização do trabalho. Juntos, devemos lutar por maior investimento na educação - por um ensino superior público, justo e de qualidade!

"Se formos apenas mais uma escola, seremos uma escola a mais."


Entrevista (muito interessante) de Paulo Peixoto ao Diário de Negócios

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